domingo, 31 de março de 2013

hic


"...Every year is getting shorter, never seem to find the time 
Plans that either come to naught or half a page of scribbled lines..."

Correndo, escorregando, desfilando, voando até... mas só hoje reparei nos dedos das mãos, cheios de uma mágica acumulada há vinte & cinco anos, e provável de ser um encanto menor frente à própria percepção dos dedos.

Aqui, soldados a uma espécie de ideal -- que são os corpos -- denunciam algo de preciso e recôndito, algo que nem a profundidade de uns olhos poderiam revelar: finalmente o tempo pousou, encontrando minha pele disponível à sua seringa.

Até aqui, fez-se o tempo redondo de felicidades e tonturas, eis que chega uma tristeza ou-outra pronta a levar qualquer coisa... Só que, pelos anos e pedaços que meus dedos testemunha(ra)m, a vida somente sustenta este viço de manga eternamente de vez, quando assume-se que a satisfação, a plenitude humana, vem aos blocos, peças. 

Obviamente, montamo-nas. 

O que pretendi dizer foi, talvez, é que necessitamos de ciclos, de poemas, de amigos, de petiscos, de sorrisos e de et coeteras, que não concluam de nossa existência as caminhadas, mas que nos façam imaginar n possibilidades, n descobertas, n trilhas na floresta muda.


aos amigos Igor Pablo, Weslley Costa & Ronaldo Soares

sábado, 16 de junho de 2012

CARMDV



Após longo e tenebroso chavão, digo, inverno, os autores de Acorde tem novidades. Na verdade, um deles especificamente. Wesley Costa está com novo livro no prelo, e logo, logo, teremos mais informações sobre ele, que é possível de ser lançado ainda este ano. Por agora posso dizer que já tem capa e prefácio (meus por sinal) e reúne textos de Acorde e inéditos, além de alguma prosa. 


Aguardem mais notícias.


Saudações,


Sebastião Ribeiro

sexta-feira, 23 de março de 2012

Sobre o livro Acorde (lançamento ocorrido em 09,02,2012)






Para não ancorar, acordar nas Palavras é o que nos faz pensar, e não nos esqueçamos que o silêncio também é música.

Acorde é uma antologia dos jovens poetas Igor-Pablo, Sebastião Ribeiro e Wesley Costa editado em 2011 pela Editora Scortecci. A proposta é mostrar que a labuta poética ainda continua vigorando mesmo nos dias em que as palavras não passam de vãs palavras. Ainda resistimos à Arte da palavra escrita, ainda há quem se entregue ao trabalho poético sem medo. Isso de Arte nos pertence.

O projeto de livro/antologia nasceu em algum dia de 2010 em mais uma das conversas literárias dos já mencionados poetas (amigos). Projeto que veio se concretizar, de fato, após a premiação do 23º Festival de Poesia do Maranhão, onde os três poetas foram reconhecidos pelos seus méritos.

O lançamento deste livro nos proporciona a visão de três poetas jovens e diferentes, cada qual com sua (in) maturidade, cada qual com seu propósito estético, ou antiestético, como queiram. Acorde é um livro da vida de todos nós, humanos e desumanos, artistas e não artistas, poetas e pensadores, prosadores sem dieta, leitores sem pretensão ou pretensiosos degustadores.


                                                                                                                                     Igor-Pablo

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Sublimação, de Sebastião Ribeiro


 sublimação

                                    É essencial fotografar objetos familiares de pontos de vista inesperados.
                                                                                                                                                                Ródtchenko

por enquanto sem rumo vou
ficando: um cupim sem asa ou
içá fenecida (menos uma cópula)

tudo pede que’u pense
(exige parte que podes
não ter, quiçá não ser)

por isso o cancro do caule
ou a pétala que cai sem
estalar dor, por isso

os olhos novos anseiam luz
na morte de tudo: durmo e
acordo em sonho esfarelado.

nos ônibus o que preciso é comum
a tudo, a necessidade me faz irmão.
compartilho a flor que não gritou.

o dia passando não enxerga
a mão inteira que busca um pouso.
esperando gosto, a boca oferecida;

por isso a lâmpada queima, por isso
o pé cego fragmenta um cogumelo:
assim caio em mim cogumelo pisado,

recolho embotado as provas da
prova dos toques, dos olhares:
os fins é que me fazem assim.


            A vida, um rumo, uma incerteza. Há alguns períodos em que os caminhos se apertam de tal, que miramos o nada, e nada mais. Estar esse cupim sem asas (...)? Ou uma árvore sem flor (...) Ou pétala solitária já debilitada. Pra onde progresso? Pr’onde progredir?!?! O cruel é saber que nossos olhos nunca viram esses mares-grandiosos, então estarei perdido mesmo, nas tempestades desse oceano de cobranças. Não devo ter todas as visões, não tenho tempo, não sou Senhor da minha vida. As roupas abdicam do corpo demolido de fragilidades que não se correspondem com os gritos da tortura. Que poema esse que me envenena? É sublimação, surpreendera-me. Já não falo como crítico, já não falo como aprecio-a-dor, falo como acabrunhado de melancolias e exaustões. Quando vi que a necessidade me faz irmão, tudo se correspondeu. Este texto era pra ser outro, mas meu espírito está vago... e vagueia por entre as pessoas do tal ônibus, pobre dessas flores que não tiveram vozes...Poetas sabem que são igualados ao zero, poetas são pretensiosos demais. E as pisadas se fazem comuns, quando a costa de caminhos tortos, vértebras asfaltadas já são mudas criadas...

                                                                                                                                       por Igor-Pablo

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Sonho, de Igor-Pablo


SONHO
Dormi e nada me lembro do sonho que tive
Se é que tive.
Talvez os sonhos se expliquem melhor
Quando estamos acordados
Já sinto o cheiro do café
Peguei o copo
Bebi a manhã

Poderia, muito bem, escolher algum poema dentre os que geralmente a preferência daqueles que conheço se direciona. Dentro dessa lógica, seria provável que escolhesse “Botas-calçadas-de-concreto” (o que aliás não critico, já que se trata de um ótimo poema), porém não posso deixar de olhar para esses versos que já vem logo ali, cruzando a rua ou o pasto.  
O poema vem e consegue, sem fajutismos, nos situar em uma atmosfera onírica, visto que ele mesmo é um sonho. Todavia, é sonho que ocorre, por se estar bem desperto, acordado, ou melhor, (desculpem o trocadilho) em estado de acorde. Flashback: O eu lírico menciona ter dormido e possivelmente sonhado (Em caso afirmativo, isso implica dizer que o eu-poético saiu de um sonho para entrar em outro).
Sonho, em si, constitui, como tenho dito, isso mesmo que o título nos indica, mas tal afirmação não impede que a voz do poema se direcione para a realidade: “Talvez os sonhos se expliquem melhor/ Quando estamos acordados”. Aliás, é justamente essa a ideia externada pelo eu-lírico: o onírico dialoga com o real. Semelhantemente, a existência até certo ponto metafórica ou abstrata de um poema, se bem estabelecida, muito pode expressar, significar em relação à realidade dos mais variados campos temáticos. Digo se bem estabelecida, só para enfatizar, como bem lembra Maiakóvski: “Hoje/ os maus versos/ são milhões./ Os bons dão muito trabalho” (Vida e Poesia, Martin Claret. Trad. Daniel Fresnot. 2006. p. 170).
 Sim, o trabalho poético interpreta, representa, põe seu olhar crítico sobre o real. Não esqueçamos que além de tudo isso, a arte poética reinventa a realidade. Dá-nos um ótimo exemplo dessa prática o eu-lírico através da imagem que ao final do poema é construída (“Peguei o copo/ Bebi a manhã”), imagem essa resultante de uma estilística envolvente.

Wesley Costa

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A FACE DE UM ACORDE





Este Acorde, sim, tem um rosto. A menos que seu destino só angarie uma e somente uma edição. Ao destino, o futuro. Entretanto, venho aqui partilhar uma linha ou outra sobre esta capa. Nada de mais. Surgida quase sem querer, me atrevo inclusive a acreditar que existe certa relação entre os atos-de-criação-peso-líquido desta antologia, com os mesmos que basearam esta intenção gráfica de ilustrar algo como a poesia.

Neste nosso ambiente dedicado às hermenêuticas e fenomenologias possíveis, consegui (e para quem...) enxergar um sentido em todas estas linhas e curvas contornos de letras que sujam uma base de escuridão. São prolongamentos, e ao mesmo tempo, constituintes do nome da obra, primeiramente em instabilidades na cor branca, depois num equilíbrio navy. O efeito novelo foi uma experiência, e nem por isso inválida.

Quando da oportunidade de entender a capa que tínhamos feito, vieram-me algumas reflexões sobre que tipo de força jovens poetas (e por extensão, jovens artistas) têm num meio de acordos e relações. Por um lado, não existimos, pela falta de audiência da recepção, e de impostura, pelo escritor ainda tão afeito a textos silenciosos numa folha em branco, que mais chiam que roncam (ou ronronam); por outro, as “relações” são necessárias e, diria mais, essenciais, pois poucos artistas, consagrados ou não, têm o sentimento e voz quista para suportar uma única revelação literária. Precisa-se de mais alguns, para que o livro que vem vindo se constitua, factualmente, presença, não simplesmente, estadia.

Quis eu, com o supracitado, lembrar desavisados que as preferências são relativas; os processos são relativos; os contextos são relativos; as experiências são relativas; as construções são relativas, e mesmo as diferenças, em sua fração de similaridade, são relativas. Acorde, a começar pela capa, significa valorização das experiências, não como teste, mas como adição e aprendizado; também não quero dizer que se trata dum livro franksteinesco, e muito menos dum sofisticado e geneticamente acurado clone (à espera de morte prematura?). Trata-se de um elemento primordial e diverso, pronto a se fragmentar e condensar-se em outros corpos celestes. Nem por isso perdem sua beleza, seu encanto, seu mistério, sua lição, seu segredo. No fim, acabamos nos calando, seja qual for o efeito que a criação nos causa. A obra, humana ou divina, atrai a necessidade de compreensão, ou apreciação, no mínimo. Diria Sartre, só existe arte por e para outrem.
Licença Creative Commons
Acorde de Igor-Pablo, Sebastião Ribeiro & Wesley Costa é licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso não-comercial-Vedada a criação de obras derivadas 3.0 Unported.
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