quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Sublimação, de Sebastião Ribeiro


 sublimação

                                    É essencial fotografar objetos familiares de pontos de vista inesperados.
                                                                                                                                                                Ródtchenko

por enquanto sem rumo vou
ficando: um cupim sem asa ou
içá fenecida (menos uma cópula)

tudo pede que’u pense
(exige parte que podes
não ter, quiçá não ser)

por isso o cancro do caule
ou a pétala que cai sem
estalar dor, por isso

os olhos novos anseiam luz
na morte de tudo: durmo e
acordo em sonho esfarelado.

nos ônibus o que preciso é comum
a tudo, a necessidade me faz irmão.
compartilho a flor que não gritou.

o dia passando não enxerga
a mão inteira que busca um pouso.
esperando gosto, a boca oferecida;

por isso a lâmpada queima, por isso
o pé cego fragmenta um cogumelo:
assim caio em mim cogumelo pisado,

recolho embotado as provas da
prova dos toques, dos olhares:
os fins é que me fazem assim.


            A vida, um rumo, uma incerteza. Há alguns períodos em que os caminhos se apertam de tal, que miramos o nada, e nada mais. Estar esse cupim sem asas (...)? Ou uma árvore sem flor (...) Ou pétala solitária já debilitada. Pra onde progresso? Pr’onde progredir?!?! O cruel é saber que nossos olhos nunca viram esses mares-grandiosos, então estarei perdido mesmo, nas tempestades desse oceano de cobranças. Não devo ter todas as visões, não tenho tempo, não sou Senhor da minha vida. As roupas abdicam do corpo demolido de fragilidades que não se correspondem com os gritos da tortura. Que poema esse que me envenena? É sublimação, surpreendera-me. Já não falo como crítico, já não falo como aprecio-a-dor, falo como acabrunhado de melancolias e exaustões. Quando vi que a necessidade me faz irmão, tudo se correspondeu. Este texto era pra ser outro, mas meu espírito está vago... e vagueia por entre as pessoas do tal ônibus, pobre dessas flores que não tiveram vozes...Poetas sabem que são igualados ao zero, poetas são pretensiosos demais. E as pisadas se fazem comuns, quando a costa de caminhos tortos, vértebras asfaltadas já são mudas criadas...

                                                                                                                                       por Igor-Pablo

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