quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Na Trilha da Poesia

É sempre muito bom, digo muito bom, porque é verdadeiro o que sinto, e assim como a vida, é a arte um significante que permeia as realidades do ser e de sua existência. O conhecimento logrou saltos muito importantes nestes últimos dois séculos (o mundo/máquina influenciou para tais aportes), sendo que a arte e, em especial, a poesia, acompanhou estes acontecimentos se posicionando na vanguarda. Só que tais ‘progressos’ denegriram e denigrem a imagem espacial desta natureza, que é campo visual de nós, poetas, infelizmente. Vivemos um mundo de abalos sísmicos e de abalos cínicos.
Lendo com curiosidade, com olhar crítico, com olhar de prazer, enfim, com todos os olhares possíveis que cabem a um ‘gostador’ de poesia, deu para ver muitos bons poemas na safra deste “Acorde”, fato este longe de mim querer questionar (pois também tenho uns títulos meio estranhos para os meus livros de poesia), mas já questionando, poderia ter um nome mais apropriado à poesia e aos versos destes três poetas que se iniciam nas águas desconhecidas da poesia. Para eles dois caminhos: o da Esfinge ou de Caronte. Estes vates é que farão as suas escolhas no trilhar de suas carreiras literárias.
Poderia segmentar por autor, ao analisar o apanhado de poemas inscritos neste livro/antologia, mas não ficaria justo e nem seria tão simples o trabalho, que ao me convidarem fiquei lisonjeado, pois sou um poeta de outra geração e tenho o cuidado de não ferir ou também mascarar as virtudes ou fracassos dos que iniciam, ou melhor, se jogam no mundo de Borges, Neruda, Drummond, Pessoa, Cecília, Maiakóvski, Rimbaud, Gullar etc. Os poetas Igor-Pablo, Sebastião Ribeiro e Wesley Costa têm em seus poemas uma veia muito próxima da maior parte dos poetas que estão em busca de um espaço no mundo da poesia, isto é, os poemas em verso livre.
Esses versos ‘modernos’, ora se ‘desaproximam’ deste momento literário e causam um frisson muito bacana. Os poemas de “Acorde” têm uma assinatura original dos seus criadores, mas como “não há nada de novo abaixo da Linha do Equador”, são bem constantes as influências de poetas consagrados na ‘invenção’ de seus poemas. Observa-se uma predileção pelo ‘cotidianismo’, metalinguagem, haicaísmo, neoconcretismo etc., mas com personalidade fincada, com autoridade de querer homenagear simbolicamente os mestres, sem querer plagiá-los, mas acima de tudo procurando transformar suas pegadas em uma linguagem própria.
Eis algumas demonstrações de maior destaque deste “Acorde”: alguns nomeiam / sonho à vontade / prefiro esperar /o meio-dia cair / nos postes e fazer / as sombras claras (Do poema Efeito, de Sebastião Ribeiro); ou: E eu já me peguei / várias vezes / tentando dizer verdades / sem ao menos conhecê-las. (Do poema Dizendo, de Igor-Pablo); ou ainda: Levava consigo a fome / Como uma outra sombra, / Uma sombra invisível, / Nem tanto talvez / Pois podemos percebê-la / No gesto raquítico / Que carregava (Do poema Adoção, de Wesley Costa).
Outros poemas possuem igual envergadura como são os casos de: “Botas-Calçadas-de-Concreto”, “Pablavras de Neruda” e “Poema (quase) novo”, de Igor-Pablo; “Mundos”, “Tentativa” e “Anti-silêncio”, de Sebastião Ribeiro; “XII”, “As teclas do piano encharcadas de sons” e “Se Van Gogh tivesse escrito este poema”, de Wesley Costa. No mais, devemos dizer, acima de tudo, que este é apenas um traço, um esboço destes poetas; muito ainda terão a dizer com o tempo, mas já conduzem com talento e trabalho suas poesias. E muito ainda acrescentarão ao lirismo e à poesia da ilha de Ferreira Gullar.”
                                                                             
                                                                                    Bioque Mesito - poeta e jornalista



Um comentário:

  1. Sebastião, ficou muito bom o blog de apresentação do trabalho de vocês... Fiquei feliz por ver concretizado, já virtualmente, o livro de vocês... Que esta tríade continue sempre assim... Bioque Mesito.

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