quinta-feira, 8 de setembro de 2011

XII, de Wesley Costa


Sebastião Ribeiro diz:  

Façamos assim: até o lançamento físico de Acorde , neste presente espaço alguns braços de poema ou poemas inteiros do referido poderão ser deliciados. Começemos pelo cara que, fora umas notas aqui ou acolá na imprensa local, é de certo desconhecido nas rodas de conversa literária (who knows) e ruas esburacadas da cidade. Seu nome é Wesley Costa e carrega simplesmente o 1º lugar do 23º Festival Maranhense de Poesia - Joaquim de Sousa Andrade. Seu poema vencedor, XII, até onde a notícia alcançe, pouco foi divulgado na imprensa local, exceto pelo especializado suplemento literário do Jornal Pequeno, o Guesa Errante (Ano IX - Edição 228 - São Luís, 30 de dezembro de 2010), através das mãos de Bioque Mesito. Aqui meus dedos coçam em tecer uma conjetura sobre o espaço dado e alcançado pela literatura nestes locais que testemunham nossos pés, mas deixemos isto, por enquanto, à guisa do aniversário da cidade e os clichês proferidos nessa época: Ó, São Luís, Ilha dos Amores, do Reaggae, dos poetas...

Voltando: Sr. Wesley, que atualmente anda às voltas com textos que poderão constituir livro individual em alguns meses, talvez não imaginasse que seu poema ganharia o certame supracitado, uma vez que não, até aquele momento, via-se em costume de se inscrever em vários concursos, como eu por exemplo. Acontece que, como dito 'a pessoa nasce pro que é', ou, 'Deus sabe o que faz...'. Creio que a vitória ajudou a delinear melhor a poética de Costa, que apesar de inicial, nós que o conhecemos e concentramos certa experiência e labuta poética, podemos afirmar que este cidadão vem consciente trabalhando o verbo que acolhe o humano, muitas vezes subjugado pelo próprio verbo, mas especialmente pela falta do.

XII é um texto que me lembra (talvez obviamente) aquelas frações do dia em que uma parte da luz ainda pode ser percebida, e paramos a considerar o calor que pede o corpo, e também o que pede os olhos. Quando o rumo do trabalho do mundo se desvia um pouco para as vagas que existem e insistem em tirar-nos daqui, da sala, do quarto, de nós mesmos. Como poeta, é de certa forma condenável o silêncio que me é imposto após a leitura de XII, mas quando leio um poema como este -- talvez como outro, o humano atarefado, assalariado, confuso e cansado que sou, impede que chegue a consciência de que minhas mãos e o tudo mais sejam capazes de criar. Entre meu descanso & espera do mundo, acontece um poeta acordado, Wesley Costa:



XII


As nuvens em meu olhar
Abraçam com maciez terna
O azul tranquilo deste céu

Por isso (nem sei porquê)
Imagino-as dizer;
“não te esqueças de colher
As roupas maduras do varal
Dessas cordas sobre
As quais se apóiam afinal os
Teus pensamentos
Como papagaios espontâneos
Empoleirados sobre frágeis
Mãos humanas declamando Shakespeare
(em gestos de ser e não ser)”
E por isso mesmo (ainda não sei porquê)
Desembainho palavras pacíficas
Sobre cada “desamanhecer” cantando;
“Colham as roupas maduras do varal
Pois não há tempo para as coisas sem proveito”  



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