Cotidiano (de um poeta?)
Ao redor de prédios que vão ao teatro
Marinhos cavalos estrelam constelações
Depois, vejo em espelhos, mil milhões de ilhas
E enquanto alguns quadros falam mal da poesia
Dias duvidam das horas e das datas
Pois os segundos navegam em milésimos de supersônicos
Cotidiano de um poeta é um poema daqueles
que interseccionam a vida e arte num limite alegórico que existe veementemente.
O tempo do poeta é único, o tempo da linguagem- poema, pode passar, mas a
poesia fica firme num plano universal. A descrição adotada, num princípio, situa
o artista numa caminhada que deixa um paralelo do trabalho humano. Há um
espiral de possibilidades entre o transeunte, o prédio e o teatro. Quem
coordena um ao outro e ou ambos ao mesmo tempo? Arriscaria dizer que o
pensamento é quem é comandante desse navio poético carregado de dangeridade. A
imagem inversa produzida pela linguagem em marinhos cavalos e estrelam
constelações enjambemanta de forma que o objeto fique elevado de
possibilidades de significância. Na segunda parte do poema, há a presença do
eu-poemático se apresentando em reflexões, mil milhões de ilhas intensifica uma
busca que nunca será possível, pois o poema se torna poesia a partir dessas
várias personalidades que se encontram profundamente nas palavras. A posição
dos mil milhões de ilhas aparecendo no espelho é de uma busca da identidade,
que não necessariamente deva existir. Todos podem ser claramente paradoxais. O
um pode ser todos, e todos podem ser nada. E enquanto alguns quadros falam mal da poesia-
as artes se misturam, o plano da produção se corresponde no âmbito de que o
humano é mais humano pelas revelações que se busca numa insensatez. A poesia
não é materializada como a imagem que vejo naquele quadro, mas ainda assim
posso mergulhar nos oceanos que o quadro me convida. As artes entram em
discussão para melhor serem vistas, assim como, a poesia poderia se convencer
de que a pintura revela mais que deveria. Para finalizar o poema, Wesley Costa,
propõe uma questão bem significante de nossas vidas, a velocidade com que tudo
é devorado. Os dias se personificaram e duvidam das datas, nada importa, tudo é
passageiramente veloz, numa celeridade inalcançável, onde o próprio tempo se
consome e se dissipa. Cotidiano de um poeta me faz pensar que a vida é rápida de-mais para
podermos pensar na calmaria que a poesia requer. Essa é a poesia da maturação
do artista, antes, homem. É a constatação de que se colocarmos água em nossas
mãos, ela escorre e deixa apenas vestígios friamente diluídos.
Igor-Pablo
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