segunda-feira, 14 de novembro de 2011

isto aqui, de Sebastião Ribeiro

Spread it out, por Wesley Costa


isto aqui
para não perder
o costume do lirismo mudo
surgido do nada
examinemos seu consumo
o recurso que lhe mostra a
quantas mentes pousar

abra-o
espalhe-o
melhor
spread it
fixe-o além da porta
alguém baterá
quem será? quem será?
creio que o louco acostumado
ao rito pesado do escrito espúrio

essa forma poemática
pouco falará de tudo
posto que sabe-se pedaço
levantado de coisa alguma;
saboreamos a juventude
de som em som,
das palavras à morte
em pedaços de noite;

pouco dela se apreenderá
posto que

sou uma parte solta
e meu vento destino esfria
o sul solitário

Ao ler o poema “isto aqui” de S.Ribeiro, percebemos no eu - lírico certa preocupação em refletir sobre o caráter profícuo ou não de seu lirismo (e por extensão, mencionamos também os signos poema e poesia), visto que nos convida “examinemos seu consumo/ o recurso que lhe mostra a/ quantas mentes pousar”. Nos versos citados, a ideia de proficuidade é associada com a universalidade que o poema possa alcançar. Na segunda estrofe, o exame se torna ainda mais minucioso, fixamos, conforme o que nos é proposto, o lirismo além da porta, fazemos isto num “jogo” interessante, pois sabemos que o lirismo, por sua vez, é também uma porta. Mas porta para quê? Ou para onde? Poderíamos e podemos, de bom grado, para esses questionamentos, aderir às palavras de Maiakovski, o qual afirma “toda poesia é uma viagem ao desconhecido”.  Declaração esta que, apesar de sua eficácia, não impede que insistamos em entregar em suas mãos, leitor, ainda a mesma pergunta: para onde a poesia pode levar?
Outro aspecto interessante, dentre os muitos que encontramos no texto, é a expectativa que é feita acerca daquele que mais, ou que primeiro, estabelecerá uma aproximação consistente (versos 12-15). Quanto a isso, plantamos as seguintes possibilidades: a) Aquele sobre quem é criada a expectativa é, na verdade, o leitor (como anteriormente relatado, não o leitor indiferente, mas o que possui algum grau mais relevante de interação) ; b) o eu – lírico pode ter falado de si mesmo, ou melhor de seu lirismo, uma vez que, está à porta no anseio de ver o lirismo irromper, ainda maior; c) Tomando-se em consideração a pluralidade de sentido do texto literário , as possibilidades anteriormente citadas são precisamente “distintas”, sem que a primeira invalide a segunda e vice-versa.
Por outro lado (mudando um pouco o foco desta reflexão), Por que se empenha o eu-poético em caracterizar a si mesmo, àquele que estará à porta e à “forma poética”, respectivamente, como “parte solta”, “louco” e “pedaço levantado de coisa alguma?” Podemos lograr uma resposta para esta pergunta através de uma outra interrogação: qual é o grau de relevância atribuída à arte poética, em uma estrutura social, amplamente envolta em “pragmatismos”?
Alta satisfação, faz-se necessário dizer, nos incorre através da realização deste escrito, ainda que não negligenciemos o fato de que ele não abrange todas as possibilidades de sentido do poema (e nem poderia dado sua supracitada “plurivastidão” de sentido).

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